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O VAZIO PULSA (2016-2018)

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O Vazio Pulsa, 2016-2018. . Imagens de Lúcia Fonseca.

Luciana Valio está à cata de vestígios de ocupação de pequenos seres. Favos de colmeias, casulos e minúsculas casinhas de marimbondos abandonadas são objetos de interesse e coleção. Aqui apresenta-nos fragmentos dessa coleção em duas pequenas vitrines, contendo casinhas de vespas e exoesqueletos de cigarras, besouros e outros insetos, os quais, em seus processos de ecdises, abandonaram seus antigos esqueletos externos e deram prosseguimento à metamorfose de seus corpos, até a maturidade. Diferentemente de nossos corpos mamíferos, cujas estruturas ósseas crescem juntamente com os órgãos e músculos que elas sustentam, nos pequenos insetos é mais fácil perceber os exoesqueletos como “casas” provisórias tornadas vazias, o que gerou a reflexão de Valio sobre o vazio como elemento norteador de sua coleção e de seus trabalhos, as relações com os ritmos e ciclos da vida. O que ainda pulsa, no vazio? Será a memória da força de eclosão do animal? Interessa-me o devir, o que está para além do vazio que já abrigou uma matéria mole:  a preocupação da artista com a disposição dos elementos no interior de cada caixa. Germina ali uma organização, não rigorosa quanto a organização taxonômica de artrópodos, mas a organização de uma vitrine-abrigo que possa guardar essas miniaturas de quitina e barro. Por ora, temos composições que obedecem a relações cromáticas e de dimensão dos espécimes, mas aguardamos o desenvolvimento de uma sistemática própria, ao saber de comparações de formas, de elementos exaustivamente repetidos, de elementos faltantes e outras singularidades que surgem nos encontros fortuitos. 

Os artrópodos, como é sabido, constituem um filo que engloba diversas classes de invertebrados, todos tendo em comum o exoesqueleto mencionado acima, e ainda, pares de apêndices articulados, dependendo da classe a que se referem (insetos, crustáceos, aracnídeos, entre outros). A articulação das partes desses animais permite um amplo espectro de movimentação de suas patas, o que me remete aos Bichos de Lygia Clark e neste caso, aos objetos-livros de Merien Rodrigues.

Texto da curadora  Cláudia França. Exposição: Como habitar o Desenho, Galeria UFF, 2018.

O vazio não é o nada.

A partir dessa frase, a tentativa de preencher o vazio parece ser o desejo a se experienciar. O vazio é potencial transformador. Dentro dos exoesqueletos vazios condensa-se a memória da transformação, do crescimento, do ritmo, demonstrando o ciclo da Natureza.

Na crisálida vazia é deixada o vestígio da metamorfose da borboleta. No vazio, que um dia foi de intensa plenitude. Assim, O Vazio Pulsa cheira a mel. Vivifica a memória da transformação do néctar em alimento cósmico. Ressalta a possibilidade latente da transformação do por vir.

Ficha técnica:
O vazio pulsa, 2016-2018
Objeto.
Duas Caixas vitrines e uma lupa. Caixa de papel kraft, cera alveolada, exoesqueletos de cigarra (Carineta fasciculata), invólucro da crisálida da borboleta-do-manacá (Methona themisto), ninho de Vespa-de-papel (Polistes dominulus) e duas casas de barro da Vespa amassa-barro (Sceliphron fistularium).
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